segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Duas professoras baianas ganham prêmio nacional em Brasília

A vida lhes deu limões e elas fizeram limonadas - caprichadas. Duas professoras de pequenas cidades do interior da Bahia deixaram momentaneamente a dura realidade que enfrentam todos os dias em suas escolas e foram a Brasília, no fim do mês
passado, apresentar a docentes de todo o Brasil suas experiências vitoriosas de ensino. O evento foi parte da programação do seminário A Escrita sob Foco: Reflexão em Várias Vozes, promovido pela Fundação Itaú Social, em parceria com o Ministério da Educação, que aconteceu de 29 a 31 de agosto, em Brasília. Durante a Olimpíada de Língua Portuguesa de 2010, idealizada pelas mesmas instituições, 239 mil professores da disciplina se inscreveram, 130 foram selecionados entre as melhores práticas de ensino e 25 deles apresentaram seus trabalhos. Entre esses últimos estavam as baianas Célia Farias Aguiar Rocha e Ionã Carqueijo Scaranti, respectivamente das cidades de Malhada de Pedras, no Sudoeste baiano, e Nazaré, no Recôncavo. A falta de estrutura das escolas onde trabalham não foi empecilho para desenvolver trabalhos premiados. Ao contrário.

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Desafio
Professora de uma escola com reforma não concluída desde 2009, Célia usou a dificuldade a seu favor. Para ensinar os adolescentes do 3º ano do ensino médio a escrever cartas argumentativas, ela propôs que eles escrevessem uma ao governador Jaques Wagner.

“É um assunto que eles comentam muito, faz parte da realidade deles. Todos aceitaram na hora”, contou. “Levei para a sala cartas argumentativas de todo tipo, para que os alunos conhecessem o tipo de escrita, além do trecho da Constituição que fala da educação”, conta Célia. Um joguinho que exercita a argumentação completou a preparação. Era hora de pôr as mãos na massa e escrever a carta.

O dever de casa foi dado e, para surpresa da professora, algo inédito aconteceu: 100% dos 68 alunos fizeram a tarefa. As cartas ainda foram corrigidas e reescritas duas vezes até ser escolhida a campeã, que foi novamente reescrita, para finalmente ser entregue e protocolada na Governadoria.

“Aproveitei para trabalhar a linguística. ‘Como você vai falar com o governador desse jeito?’, argumentei”.

O resultado não poderia ter sido melhor. Além da melhora no desempenho dos alunos, há 3 semanas o Colégio Estadual de Malhada de Pedras recebeu a visita de um engenheiro da Secretaria estadual de Educação, para avaliar o que estava faltando para a reforma ser concluída.

Nazaré
A escola que Ionã trabalha, em Nazaré das Farinhas, é um pouco mais estruturada que a de Célia, mas nem por isso o desafio foi mais fácil. Ela precisava ensinar contos aos estudantes do 9º ano do ensino fundamental, mas os alunos não pareciam muito receptivos. Ela então iniciou um árduo trabalho.

Começou devagarzinho, apresentou alguns contos clássicos e foi sentindo que a resistência foi diminuindo. Mas os alunos ficaram ainda mais interessados quando a professora levou para a sala de aula contos do conterrâneo Lamartine Augusto Vieira.

“Eles ficaram fascinados. Então tive a ideia de levá-los até o autor dos contos”, conta a professora, que fez várias viagens no próprio carro para levar os 24 alunos da escola até a biblioteca do contista.

“Lá, eles conversaram, tiraram as dúvidas e voltaram para a sala de aula muito mais seguros para escreverem seu próprio conto”, conta a orgulhosa professora.

Mas, no caso de Ionã, o final feliz ainda pode ser mais feliz. “Os contos ficaram tão bons que surgiu a ideia de publicar um livro, mas ainda não sei como vamos viabilizar isso. Ainda é um sonho”, avalia.

Carta vencedora questiona a situação da escola e cita a lei
Juliana Coelho Ferreira da Silva foi autora da carta enviada ao governador. No texto final, que teve colaboração de outros colegas, ela relata os problemas pelos quais a escola vem passando por conta da reforma não concluída.

“Devemos reconhecer, Senhor Governador, que esse fato traz por si só grandes e numerosos problemas, como, por exemplo, a merenda que não está sendo servida, pois o local onde deveria funcionar a cantina está ocupado com materiais usados na obra”, diz um trecho da carta. Em outro, ela questiona: “Peço ao Senhor Governador que se coloque em nossa situação. Será que Vossa Excelência gostaria de ter um filho estudando em uma escola assim? Creio que não. Pois, para um pai, é triste ver essa desagradável realidade”. A carta termina com trechos da Constituição Federal.

Olimpíada teve duas alunas baianas entre os 20 vencedores
Na última edição da Olimpíada da Língua Portuguesa, em 2010, os estudantes baianos não fizeram feio. Entre os 20 vencedores, dois eram da Bahia. Caroline de Farias Couto da Silva foi um deles. Com uma crônica sobre a situação das crianças em sinaleiras, ela levou para casa um computador e ainda conquistou um laboratório de informática para a escola em que estuda, em Valença, no Baixo Sul. Já a estudante Daniele Oliveira Cunha, de Jiquiriçá, a 252 km de Salvador, conseguiu os mesmos prêmios com um texto no qual narra a infância do pai, na beira de um rio da cidade. Os gêneros são definidos de acordo com a série do estudante. O 5º e o 6º ano do ensino fundamental concorrem com poemas, o 7º e o 8º com memórias. O 9º ano do ensino fundamental e o 1º do médio produzem crônicas e o 2º e 3º anos, artigos.


Fonte. Correio da Bahia

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